Aquarius.
Apesar do revanchismo político com gosto de vingança infantil, Aquarius já pode prescindir da benção de um Oscar. Ganhou prêmios nos festivais de Amsterdã, no Transatlantyk, da Polônia, em Lima, no Peru e em Sidney, na Austrália. Fez furor na Europa e esta semana está sendo mostrado no Festival de Cinema de Toronto – isto, por enquanto.
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Quando um evento gera imensa expectativa antes de se concretizar, é frequente a decepção quando ele acontece. O objeto da espera invade a imaginação dos que aguardam e inflaciona, na fantasia, a versão do acontecimento. Perde-se a dimensão do real. A data da partida, o dia da chegada, a noite da grande festa, do encontro decisivo. Da estreia de um filme muito badalado.
Não é o caso de Aquarius, cujo autor, de 48 anos, é um dos mais competentes cineastas brasileiros da sua geração, o pernambucano Kléber Mendonça Filho, de Recife, de formação jornalística. Aquarius não desaponta. Pelo contrário. Eletriza milhares de espectadores e é consagrado, durante e no final das sessões dos cinemas onde é exibido, como ocorreu no último fim de semana.
Depois de quatro meses aguardando para estrear no Brasil, desde o histórico fora-temer da sua equipe, nas escadarias do Festival de Cinema de Cannes, em maio passado, o filme protagonizado por Sonia Braga atinge uma marca rara de bilheteria - duzentos mil espectadores nos seus dez primeiros dias; sessões lotadas, calorosos aplausos e gritos de protesto das plateias contra o mordomo e o golpe de estado.
Aquarius se firma além da sua dimensão estritamente cinematográfica, que é admirável, e se torna um filme/ícone. É o totem da resistência permanente dos brasileiros contra o esbulho dos meliantes usurpadores do governo e da energia da qual precisamos para botá-los para fora.
Neste começo de carreira a sua trajetória é notável embora acabe de ter sido golpeado pelo governo através de uma comissão, sem representatividade e sem ética (um dos membros é daquela crítica mal cheirosa do não-vi-e-não-gostei de certos filmes), que tradicionalmente aponta as produções brasileiras a serem escolhidos por Hollywood como candidatas ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Apesar do revanchismo político com gosto de vingança infantil, Aquarius já pode prescindir da benção de um Oscar. Ganhou prêmios nos festivais de Amsterdã, no Transatlantyk, da Polônia, em Lima, no Peru e em Sidney, na Austrália. Fez furor na Europa e esta semana está sendo mostrado no Festival de Cinema de Toronto – isto, por enquanto.