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Cultura inútil: Fazer nas coxas, Puxa-saco, adulador, bajulador

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Puxar o saco, segundo li em algum dicionário, é cativar a benevolência dos potentados; festejar por lisonja e servilismo; pegar no bico da chaleira; prestar-se a vilanias para conseguir alguma coisa.

Ser adulado (e gostar disso) é aceitar as oblações; escutar o canto da sereia; deixar-se inebriar nos turbilhões de incenso; deixar cair o queijo da boca.


Uma vez, há muitos anos, fiz um agrado a uma moça goiana e ela me disse: “Você me adula demais”.

Adula! Sorri. Nunca mais, desde criança, tinha ouvido isso. Adula, usada aí não teve sentido pejorativo. Adular, no caso, tem o mesmo sentido que lisonjear, afagar, acariciar. Mas em outras circunstâncias pode ter. Adular, assim como lisonjear, pode ser o mesmo que bajular, puxar o saco.

Bajular, no dicionário Houaiss tem como primeira definição “lisonjear para obter vantagens”. Ou seja, é uma adulação mal-intencionada.

Bom já que falei em dicionário, aí vão alguns sinônimos de adulação/bajulação: zumbaia, tagaté, bajulice, banha, louvaminhice, candonga, blandície, engodo, graxa, incenso, graxadela, lisonja, lambança, lambedela, prazenteio, puxa-saquismo, moganga, moganguice, contumélia.

E puxa-saco, bajulador? Alguns sinônimos: caçambeiro, cafofa, lambe-botas, derrengado, lambe-cu, adulão, baba-ovo, escova-botas, engrossador, corta-jaca, capacho, chaleira, chaleirista, cheira-cheira, chupa-caldo, turificador, turiferário, xeleléu, xereta, incensador, zumbaieiro, louvaminheiro, canonizador, bajoujo, banhista, lambe-esporas, lambeta, mesureiro, afocinhado no chão, capacho, mesureiro, pelego, sabujo, servil, servilão, sorrabador e… puxa-saco!

Assim como “fazer nas coxas”, a expressão “puxa-saco” não tem a origem que muita gente pensa. No Brasil dos tempos de escravidão não existiam formas para fazer telhas. Os escravos que trabalhavam nas olarias e tinham a função de fazer telhas usavam como forma as suas próprias coxas. Como um tinha a coxa mais grossa outro mais fina, as telhas não ficavam iguais. Daí surgiu a expressão “feita nas coxas”, e também “fazer nas coxas”, para coisas sem padrão ou malfeitas.

E puxa-saco? Acredita-se que tenha origem na gíria militar. Nas, viagens, os oficiais levavam suas roupas em sacos. Mas eles mesmos não se davam ao trabalho de carregar os sacos de roupas, seus ordenanças faziam isso e eram chamados de puxa-sacos.

A expressão ganhou popularidade a partir do carnaval de 1946, por causa de uma marchinha composta por Roberto Martins e Erastótenes Frazão, satirizando os políticos que aderiam ao Marechal Eurico Dutra, eleito presidente da República depois da deposição de Getúlio Vargas. Até hoje, em certos momentos, canta-se o trecho da música que diz: “O cordão dos puxa-sacos cada vez aumenta mais”.

Eu falei em “políticos que aderiam” ao Dutra, um péssimo presidente (no caso de Dutra, eleito)? Ah, que coisa mais atual! Quer dizer, sempre atual. Só mudam os nomes do adulado e dos puxa-sacos. E muitos que têm qualquer poder gostam de se rodear de bajuladores, odeiam críticas que poderiam torná-los melhores. Acredito que nunca deixou de existir esse tipo de gente – bajulado/bajulador (e não só políticos) – capaz de fazer de tudo para obter vantagens, ou pelo menos não ser punida por suas safadezas, ficar bem com os poderosos. E isso inclui rastejar, rasgar seda para esses poderosos… Alguns chamam esse tipinho de sicofanta.

Sim, sicofanta é uma palavra grega usada há algum tempo para se referir a quem bajula poderosos tentando obter vantagens. O significado original da palavra sicofanta é “aquele que denuncia a exportação de figos”. Será que exportar figos era proibido? Não sei… Mas em algumas cidades da Grécia Antiga ela ganhou novo significado que Andócides de Atenas considerava coisa de gente indigna (e eu concordo): sicofanta era um delator profissional que circulava pela cidade buscando informações sobre as pessoas para as denunciar, com a finalidade de obter algumas vantagens.

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Por Mouzar Benedito, no Boi Tempo.

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